Relação: Topos de Gama e Felicidade


Todos os dias, no corredor que dá acesso ao maior hipermercado da cidade, passa a mesma rapariga de ontem e de anteontem. Todos os dias essa mesma rapariga, aparece após a abertura das portas automáticas e caminha com um passo acelerado, travando sempre junto da segunda montra da loja de telemóveis, onde só permanecem  telemóveis da última geração, de i-phones para cima!
Para quem entra com um passo acelerado, ela pára tempo demais em frente da montra. Fica ali minutos, de costas voltadas para gente que passa apressada ou para gente com mais calma que até param a conversar com um conhecido que passou no sentido contrário. Pode estar a maior confusão atrás dela, mas ela continua de costas voltadas para o mundo, estática, contemplando apenas o telemóvel topo de gama! Todos os dias ela o contempla e naqueles minutos do dia só ele merece a sua atenção.
Depois dos seus minutos de contemplação, segue novamente com passo acelerado. Nada mais ali merece a mesma atenção.
Eu, que todos os dias a observo, imagino o quanto ela deseja aquele telemóvel e como se sentirá no dia em que o comprar!
Imagino o seu grau de felicidade depois de o ter!
Ficará ela mais feliz? Por quanto tempo? E quando o telemóvel deixar de ser topo de gama?
Não estarão as pessoas confundidas entre topos de gama e felicidade? É que felicidade e telemóveis, computadores, carros (whatever) topo de gama são coisas diferentes.
Amanhã os topos de gama deixam de ser topos de gama e nós vamos deixar de ser felizes por isso? Ou vamos viver sempre na ânsia de ter o novo topo de gama? E ao vivermos nessa ânsia, estamos a construir felicidade?  


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